Poesias

Gostaria de compartilhar com voçês este poema de João de Deus, poeta romântico português do século XIX:

 

"Não sei o que há de vago,

De incoercível, puro,

No vôo em que divago

À tua busca, amor!

No vôo em que procuro

O bálsamo, o aroma,

Que se uma forma toma,

É de impálpavel flor!"

 

 

Agora um típico poema Parnasiano que caracteriza-se por descritivismo que se realiza por meio da impassibilidade, da ausência de sujeito lírico:


Satânia  

                           Olavo Bilac

 

Nua, de pé,solto o cabelo às costas,

Sorri. Na alcova perfumada e quente,

Pela janela, como um rio enorme

De áureas ondas tranquilas e impalpáveis,

Profusamente a luz do meio-dia

Entra e se espalha palpitante e viva.

Entra, parte-se em feixes rutilantes,

Aviva as cores das tapeçarias,

Doura os espelhos e os cristais inflama.

Depois, tremendo, como a arfar, desliza

Pelo chão, desenrola-se, e, mais leve,

Como uma vaga preciosa e lenta

Vem lhe beijar a pequenina ponta

Do pequenino pé macio e branco.

 

Sobe... cinge-lhe a perna longamente;

Sobe... - e que volta sensual descreve

Para abranger todo o quadril! - prossegue,

Lambe-lhe o ventre, abraça-lhe a cintura,

Morde-lhe os bicos túmidos dos seios,

Corre-lhe a espádua, espia lhe o recôncavo

Da axila, acende-lhe o coral da boca,

E antes de se ir perder na escura noite,

Na densa noite dos cabelos negros,

Pára, confusa, a palpitar, diante

Da luz mais bela dos seus grandes olhos.

 

E aos mornos beijos, às carícias ternas

Da luz, cerrando levemente os cílios,

Satânia os lábios úmidos encurva,

E da boca na púrpura sangrenta

Abre um curto sorriso de volúpia...